por Albenísio Fonseca
O “il mondo cane” das metrópoles pode servir ao sensacionalismo barato e perverso que motiva uma audiência. Mas há um limite de tolerância à falta de ética e respeito a princípios consagrados à pessoa e ao exercício da profissão, que recusam como jornalismo a abordagem na forma de interrogatório torturante, utilizado por supostos repórteres, nos programas de tevês sobre a violência, como método de intimidação ao direito de ampla gama de miseráveis – oh! Victor Hugo.
Programas que atentam, com a crueldade dos seus fatos, para o bem estar social, e sob a complacência permissiva das autoridades policiais e jurídicas. “Comunicadores”, radialistas (?), a usar do livre direito de expressão da nossa tênue democracia, para replicar a violência seriada; o escabroso, como sedução. A adotar métodos coercitivos, sentenciando, antes de qualquer veredito.
As emissoras – concessão pública, diga-se – a dispor em suas grades de programação de tribunais de inquisição da correição pública, a espetacularizar a violência do drama contemporâneo. Cuja antípoda, suposta justificativa, pasmem, é, evidentemente, a moral social e os bons costumes. E eis que se consagram à luz do Dia.
“Tem jornal popular que
nunca se espreme porque pode derramar.
É um banco de sangue encadernado,
já vem pronto e tabelado,
é somente folhear, e usar”
Dos anos 60 da Tropicália, de Tom Zé, desenvolvemos (!) do ponto de vista mesmo de uma História da Imprensa – oh! Gutemberg – para uma ação de mídia televisiva em escala de alcance massivo extraordinária. Mas, para que? Para atender ao gosto popular mais reles? À sede pela barbárie que inunda o cotidiano? O baixo instinto da plateia a ser saciado pelo dantesco? O estupor tornado em prazer? A desgraça como deleite? Filmes de violência requerem horários de exibição. O real em sua face mais cruel, psiquiátrica, digamos, ferindo o Estatuto da Criança e do Adolescente, não?
Ser visto é tão humano quanto ver, dirias – oh! Dante – no inferno da vida banalizada. A Justiça titubeia. Restringe-se à ação pontual. Convertido numa espécie de horário nobre do terror, os programas devem, ao menos, sair do meio-dia.
Ampla programação cultural no Brasil só é exibida em altas horas, inacessíveis ao grande público, incompatíveis com um compromisso público pela cultura, pelo avanço das “tecnologias” da consciência cidadã.
O “fenômeno” desses programas não é apenas baiano. No balanço geral, temos na mira que falta ao País um projeto de Nação, e desde há muito. Adepto da democracia, da qualidade, do bom senso e do respeito ao direito e à dignidade do ser humano, sou totalmente avesso à censura, ao totalitarismo, à violência e à criminalidade – oh! Newton.
Defender uma tevê comprometida com reais valores civilizatórios nos faz clamar que os procuradores convençam mesmo aos juízes – sob o espírito das leis – oh! Montesquieu – a passarem o rodo nesse tipo de pretenso entretenimento.
A violência da polícia paulista no protesto contra aumento no transporte público