Bom dia, Vietnã !! Do outro lado do mundo, fica fácil enxergar o Brasil, sem a contaminação midiática que domina os corações e mentes quando estamos no país.
A luta política, em qualquer nação ou sistema de governo, sempre se justifica, mas o que mostra a qualidade e objetivos da disputa, são as ferramentas que cada grupo utiliza ao buscar uma posição de poder.
No Brasil, as tradicionais forças políticas criaram um espaço comum a partir dos anos 80, quando a realização de eleições periódicas, a nova constituição de 1988, o respeito à divisão de poderes e a valorização das “instituições” garantiram a alternância de poder, o impeachment político de Collor, bem como a introdução das reformas econômicas e sociais, que marcaram os ciclos PSDB/PFL/PMDB e PT/PMDB.
Há 30 anos, o Comício das Diretas acontecia em São Paulo, governada então pela ala do PMDB, que hoje integra majoritariamente o PSDB. O evento marcou um grande entendimento político que levou PMDBistas, Brizolistas, Petistas, Comunistas, USPianos, Católicos, Socialistas, Sindicalistas diversos, Advogados, Atletas, Jornalistas e alguns meios de comunicação a apoiar e divulgar o evento.
A Globo foi uma triste exceção ao mostrar ao vivo a Praça da Sé em rede nacional, quando 300 mil pessoas pediam pela primeira vez juntas eleições diretas para presidente, mas colocando no texto a mensagem que era a Festa de Aniversário de São Paulo, uma das últimas armas para a manutenção do falido regime, mas não deu certo…
O ano era 1984, e sintomaticamente o presidente João Figueiredo, último general de plantão, forçou a eleição no Colégio Eleitoral, mas não conseguiu impedir que Maluf fosse o candidato da envergonhada Arena, que rachou e gerou um Centrão que se incorporou uma década depois ao espólio do PMDB pós-cisma tucano.
Assim nasceu o regime político partidário atual, onde os militaristas e fascistas de toda ordem foram praticamente expurgados do debate político.
No Brasil, apesar da anistia política ter sepultado os crimes praticados pelo Estado brasileiro, realizados com o apoio incondicional da realpolitik norte-americana, ninguém mais ouvia ou apoiava qualquer aventura personalista e anti-democrática. Estavam sim impunes, mas calados, o que parecia valer a pena pagar como preço pelo fim do ciclo totalitarista na terra brasilis.
A Globo e a mídia em geral entrou de cabeça na “Festa Democrática“, assim que o quadro efetivamente mudou, afinal o poder havia migrado de uma aristocracia fascistóide para uma sociedade civil mais moderna, plural e representativa dos interesses complexos de um país como o Brasil.
Mas por que então chegamos a um quadro em que os reacionários de diversas matizes saíram do armário?
Como é possível ter colunistas semanais que só se interessam em ser o Anti-PT, Anti-Lula, Anti qualquer coisa que seja proposto por um governo que acerta e erra como todos, mas que pode mostrar conquistas diversas?
Como a mídia virou torcida de futebol, revistas que são sempre pró (mesmo ao criticar o governo), e aquelas que são sempre a voz do “Copo Vazio”?
Por que o debate político foi envenenado? E as únicas pautas são aborto, casamento gay, comunismo no Brasil, ódios e preconceitos diversos?
Uma das possíveis explicações encontra-se na realidade fora do Brasil.
A política nos Estados Unidos se mostra uma guerra quase santa, entre personagens da direita de Wall Street, Chicago e Boston como Obama e os Clintons, tidos como “liberais”, pelo colegiado texano/libertário/cristão e fundamentalista, que enxerga “A América” destinada a iluminar a humanidade, mesmo que, para isso, deva ser imposta a mentira e a guerra.
São os John McCains, os pastores evangélicos de direita, ultra defensores do sionismo, do medo aos “latinos e asiáticos” e até dos “comunistas” como Obama.
Claro que são os senhores da guerra que bancam esses malucos.
Assim, perderam contato com a realidade do mundo que eles mesmo criaram e agora querem se impor ao mundo via o poder midiático e com a política do medo e do policiamento global, usando da Ameaça Terrorista, da Guerra ao Islã, banalizando a Invasão Cotidiana do indivíduo e da sua privacidade na Internet.
Esse anacronismo chegou com força ao nosso país com o ex-candidato Serra, que rasgou a própria biografia, quando no auge do desespero, se abriu a essas forças extremas de um sentimento apolítico e fascistóide.
Trouxe consigo figuras que agem no submundo da intolerância e sectarismo contra qualquer ativismo igualitário que tenha como foco o ser humano e a igualdade.
Fenômenos como a revolta reacionária contra o casamento gay, a política de cotas, os médicos cubanos, o apoio sem repressão na cracolândia, a antagonização à cultura urbana das periferias (funk não é cultura e rolezinhos), e principalmente a criminalizaçao de toda classe política (político não presta, saudades da ditadura), geram um mostro de cara e nome conhecidos.
Dizer não à manipulação midiática, não se contaminar por coxinhas e seu orgulho Não Vai Ter Copa, é essencial para elevar o debate e conduzir a sociedade a um futuro que leve em conta os desejos de todos os atores nacionais.
Vamos sim conversar sobre política e não banalizar e rechear o discurso com ideologias importadas de um Tea Party, que na real não existe no pais.
Nesse sentido, o que é “bom” atualmente para a América do Norte, não é “bom” nem para os próprios norte-americanos, imagina então para o resto do mundo.
O que acontece com a manipulação antidemocrática e midiática no Egito, Turquia, México, Honduras, Paraguai, Sudão, República Centro Africana, Síria e até na Ucrânia, não são coincidências, mostram o lado obscuro da queda inevitável do Império.
É chegada a hora de discutirmos a política novamente no Brasil, e que seja um rearranjo que garanta a transparência e o caráter participatório que a tecnologia proporciona à sociedade do século 21, onde a política se reforme garantindo as bases democráticas para mais 30/40 anos de luz e participação democrática, e que o espírito da distensão política que existiu nos anos 80 possa inspirar os atores e afastar o ódio e o fascismo reacionário do horizonte nacional. A palavra é sua, faça sua parte.
Chico Science dizia: Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar.