Revolta dos malês – Em janeiro de 1835, os escravos malês, de origem islâmica, organizaram um levante em Salvador. Na língua iorubá, muçulmano é imale, que foi aportuguesado para malê. A maior parte dos escravos na Bahia era muçulmana e eles eram cristianizados, chegando até a serem batizados à revelia.
Os malês costumavam pendurar ao pescoço um pequeno saco contendo pedaços de papel com trechos do Corão como forma de proteção. Infelizmente, não os protegia da opressão e dos maus tratos que sofriam.
Na noite do dia 24 de janeiro de 1835, os católicos comemoravam, na Igreja do Bonfim, a festa de Nossa Senhora da Guia, protetora dos navegantes e uma das muitas representações de Nossa Senhora. Enquanto isso, os negros africanos celebravam o Ramadã nas senzalas. Foi nessa noite que a revolta começou.
O levante envolveu cerca de 600 homens, o que equivale aproximadamente a 24 mil pessoas nos dias de hoje. Salvador tinha na época da revolta em torno de 65,5 mil habitantes, dos quais cerca de 40% eram escravos. Juntando os negros, mestiços e negros livres, os afro-descendentes representavam 78% da população. Os brancos não passavam de 22%.
Os rebeldes tinham planejado o levante para acontecer nas primeiras horas da manhã do dia 25, mas foram denunciados por um casal de negros libertos, Domingos Fortunato e Guilhermina Rosa, que temia a possibilidade de que os revoltosos matassem os católicos.
Os malês conseguiram aliciar escravos originários de outras nações africanas como os geges e os minas antes da revolta. As reuniões se realizavam em diversos locais de Salvador. Um dos mais importantes ficava nos fundos da casa de um inglês chamado Abraão. Por lá, destacaram-se como dirigentes os negros Diogo e Ramil.
Outra liderança da revolta foi Luísa Mahin, mãe do abolicionista e escritor Luís Gama, considerado um dos grandes lutadores pelo abolicionismo no Brasil. Alforriada, Luísa era quituteira e ia de casa em casa articulando a rebelião. De sua união com um fidalgo português foi que nasceu Luiz Gama, para quem ela dizia ter sido princesa na África. Gama morreu em 1882, seis anos antes de ver seu sonho realizado: a Abolição.
Luiz Gama escreveu sobre a mãe: “Sou filho natural de uma negra africana livre da nação nagô de nome Luísa Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto, sem lustro, os dentes eram alvíssimos como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa“.
A revolta foi reprimida com violência pelo governo com setenta revoltosos mortos e outros 500 presos e condenados à pena de morte, prisão, açoite e deportação. A pena de açoite variava de 300 até 1.200 chicotadas, que eram distribuídas ao longo de alguns dias. Do lado repressor, foram 10 baixas.
Na primeira metade do século 19, a Bahia foi palco de lutas anticoloniais e motins anti-portugueses. Outros levantes de escravos antes da revolta dos malês ocorreram em 1814, 1823 e 1830 no estado da Bahia.
Infelizmente sabemos pouco sobre os planos dos rebeldes se vitoriosos. Há indícios de que não tinham planos amigáveis para as pessoas nascidas no Brasil, fossem brancas, negras ou mestiças. Umas seriam mortas, outras escravizadas pelos vitoriosos malês.
As ocupações dos presos por suspeita de participação na revolta de 1835 refletem a variedade de atividades desempenhadas pelos escravos urbanos à época. Havia lavradores, remadores, domésticos, pedreiros, sapateiros, alfaiates, ferreiros, armeiros, barbeiros, vendedores ambulantes, carregadores de cadeira, entre outras atividades.
Para saber mais: Rebelião Escrava no Brasil – A história do levante dos Malês em 1835, do historiador João José Reis, Editora Companhia das Letras.
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