O isolamento num país de terceiro mundo como o Brasil é muito mais complicado do que na Europa, e até mesmo na China. Assisti diversos vídeoebs nos últimos dias de moradores da Itália, Espanha e da região chinesa de Wuham, e ficou muito claro que são sociedades com menor diferença social e econômica. Além disso, contam com estruturas de serviços públicos muito superiores a nossa.
Para não ficar na teoria, pesquisei alguns impactos evidentes que deveriam ser levados a sério, pois afetam as condições de saúde, física e psicológica que serão essenciais para passarmos por essa travessia.
1 – Fechamento de escolas públicas
Ação mais do que correta, mas a consequência negativa é enorme para milhares e milhares de jovens que têm na alimentação escolar uma forma de garantia de proteínas e calorias na fase de crescimento.
O governo e a sociedade não tiveram tempo de refletir e de se preparar, mas é óbvio que o incremento no programa do Bolsa Família ou outra forma de ajuda financeira aos mais pobres devem ser pensados em termos de proteção social.
2 – Quem trabalha e quem não trabalha
Sim, todo mundo deve ficar em casa, mas quem vai fabricar os remédios, alimentos, transportá-los, vendê-los e tudo mais? Esses profissionais, bem como os da saúde, correrão maior risco. Como a sociedade irá recompensá-los pelo trabalho?
3 – Segurança
Num país comandado por governantes com fortes ligações com as milícias policiais, como se sentir seguro? A polícia vai trabalhar sob que condições?
E se todos forem dispensados, como fica a área de segurança privada (aquela que emprega e arma os pobres para proteger os ricos dos outros pobres)?
Para quem investiu em automação nos prédios modernos, a coisa pode até funcionar, mas não é essa a realidade urbana e rural do Brasil, um país extremamente violento e com o crime presente em diversas esferas.
Mas quem sabe o jeito seja mesmo torcer para os bandidos e oportunistas armados ficarem em casa na quarentena.
4 – População em condição de rua
No Brasil e em toda América Latina, existe uma grande população de rua. Em São Paulo, as pesquisas mais conservadoras falam em 40 mil pessoas vivendo nessas condições e provavelmente esse número seja bem maior.
Ignorá-los, como muitos conseguem sem culpa, não é mais conveniente pois a doença do morador na frente de sua casa ou edifício também chega na segurança de sua casa.
Passou da hora do poder público usar de fato todas as ferramentas para abrigá-los, localizar suas famílias e, se possível, impedir que fiquem doentes, já que a lógica minimamente humanista indica que devemos impedir de que toda e qualquer pessoa adoeça.
Nesse item, a única solução real é deixarmos de sermos tão individualistas e enxergarmos todos como membros da mesma sociedade, engraçado é ter que precisar da pandemia para sacarmos isso, mas antes tarde do que nunca.
5 – Comunicação e Verdade
Apesar do avanço tecnológico absurdo, o mundo todo é vítima das fake news. Não tenho a menor ideia de como resolver isso, mas é importante que todos sejamos mais responsáveis na hora de compartilhar qualquer informação. Avise seu tio do grupo de zapzap da família para ele se ligar e falar do que ele realmente sabe.
Não será fácil, afinal nessa era onde todos falam, é raro conseguir ser escutado.
Nessas horas, a ciência faz toda diferença, recomendo também rezar e meditar sempre, mas ouvir e empoderar cada vez mais quem entende de cada assunto é prioridade.
Até no desgoverno Bozolino é tranquilizador ouvir o Ministro da Saúde, torço até para que ele consiga enquadrar o chefe do hospício-mor de Brasília.
6 – Esporte e Cultura
Sem futebol, sem basquete, nem vôlei ou tênis, todos esportes pararam, o que fazer além de usar o Youtube para assistir jogos do passado?
Só ontem vi a final de tênis de Wimbledon de 1979 e 1980, procurei gols dos anos 80, jogos que eu fui no estádio e etc, mas uma hora a nostalgia cansa e afinal, até já sei quem vai ganhar.
Sem festivais e shows, também fica claro que a música é muito importante. Acredito que ouvir bandas e artistas iniciantes é uma boa saída e você tem a oportunidade inclusive de ajudá-los.
Acho que prestigiar os locais de espetáculos, teatros e todos os artistas devia ser uma preocupação urgente para toda comunidade, em cada cidade, região e país impactado pela pandemia.
Para os atletas, que continuam treinando na medida do possível, também seria importante pensarmos em algo concreto que possa ser feito.
Seguramente existem vários outros fatores importantes e que não passaram nesse meu radar, mas é fato que teremos que encarar desafios nunca dantes enfrentados pelas gerações atuais, que seja uma oportunidade para que possamos voltar a ser humanos e dar um basta no egoísmo doentio que destrói a terra e a nós mesmos.
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