O escritor e professor Dênis de Moraes deu o tom da mesa Graciliano Ramos: ficha política, na 11ª Flip, na sexta. Ao imaginar o que diria o velho Graça sobre toda a pompa e circunstância oferecida a ele nessa edição da principal festa literária do país, Moraes disparou: “Graciliano diria que isso aqui não passa de um rapapé burguês”. A mesa contou também com o sociólogo da USP, Sérgio Miceli, o brasilianista Randal Johnson da Universidade da Califórnia (UCLA) e a mediação de José Luiz Passos.
Autor da biografia O Velho Graça, além de livros sobre o teatrólogo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha (Cúmplice da Paixão) e do cartunista Henfil (Rebelde do Traço), Moraes lembrou da insubordinação e do ativismo do romancista alagoano. “Graciliano nos mostrou a importância da militância intelectual, com certeza, apoiaria as atuais manifestações populares”.
Johnson recordou do impacto e da dificuldade ao ler o romance Vidas Secas aos 20 anos. “Foi o primeiro livro em português que li, somente na primeira página, já tinha recorrido ao dicionário umas 30 vezes”. O professor norte-americano afirmou que, ao término da leitura, sentiu-se recompensado pelo esforço. Ele disse que conta o episódio aos seus alunos para exemplificar o tortuoso porém gratificante caminho pela obra do escritor.
As falas mais burocráticas de Johnson e Miceli foram entremeadas pela paixão de Moraes pela obra de Graciliano. Moraes ressaltou a pequena revolução que Graça realizou na pequena cidade de Palmeira dos Índios, no interior de Alagoas, quando prefeito. “Graciliano nos chama para a coerência ética e na luta contra o clientelismo da política brasileira”, arrancando aplausos do público.