por Elaine Tavares
Penha é uma cidade no litoral de Santa Catarina, que tem apenas 21 mil habitantes. É um lugar tranquilo para umas boas férias e é por isso que no verão ganha novas cores, com a presença de turistas. Pois esse lugar bucólico acabou sendo túmulo para mais um jovem indígena desse estado que abriga hoje apenas três etnias: a Guarani, a La Klanô Xogleng e Kaingang.
Para lá tinha ido o professor Marcondes Nambla aproveitar o verão para um trabalho temporário, vendendo picolé na praia. Vivendo na aldeia e atuando como educador, foi buscar uma renda a mais, visto que esse é o destino de grande parte dos indígenas. Não tem terra para vivenciar sua cultura e precisar sair para o mundo em busca da sobrevivência. Triste realidade para os indígenas, sempre divididos entre o que são e o que o mundo que dominou a vida originária quer que sejam: integrados.
Mas, um índio nunca será integrado. Assim como o negro, ele carrega uma marca. A marca da exclusão, a não aceitação de sua pele, sua cor, de seu modo de vida, de sua existência, como se esse mundão de terras que conforma nosso país não fosse deles também. Os índios, por originários e os negros por terem sido trazidos à força e terem garantido a riqueza da nação.
Assim que, nesse movimento por viver, a virada do ano em Penha acabou sendo o fim da linha para o professor Xokleng. Ele foi encontrado no centro da cidade, caído na rua, com visíveis sinais de espancamento. Sua cabeça foi fortemente atingida, o crânio afundado, e os parentes – da Comissão Nhamonguetá – dizem que havia sinais de que um carro tivesse passado por cima do seu corpo. Era um jovem simples, nada tinha para ser roubado. Pode ter sido um atropelamento, não se sabe se intencional ou não. Os bombeiros que fizeram a ocorrência disseram que pode ter sido espancamento. Foi levado para o hospital, mas não resistiu.
Marcondes até pouco tempo circulava pelo Campus da UFSC onde se formou no Curso de Licenciatura Indígena. Tinha uma vida inteira pela frente, na batalha pela educação do seu povo e pela preservação da língua Xokleng.
Não pisará mais na aldeia, nem ensinará os pequenos Xoklengs. Lutou pela vida no hospital, para onde foi levado. Mas, não venceu essa batalha. Morreu no final do segundo dia de 2018.
Ainda não se sabe quem matou Marcondes Nambla numa noite que seria para celebrar a vida. Nem o que aconteceu de fato. Na delegacia de Piçarras, que é responsável pela comarca, o policial Elisandro informou que esse é um tempo complicado para a polícia, pois o sistema todo está em recesso. Segundo ele, os investigadores da cidade de Penha certamente estarão acompanhando o caso, mas uma informação oficial sobre o assassinato só poderá ser dada depois do recesso, que encerra dia 8 de janeiro. Em Penha a delegacia está fechada, ainda que agentes estejam de plantão. Elisandro diz que a investigação está andando, mas ainda assim há que esperar.
Enquanto isso, a comunidade Xokleng chora seu filho. Um a mais que é arrancado da vida, esse dura vida de povo originário, perdido de direitos.
Publicado originalmente no Instituto de Estudos Latino-americanos.
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