por Guilherme Scalzilli
A resposta simplificada: porque é, desde já, o candidato mais forte na eleição de 2018.
Seus governos são imbatíveis comparativamente. Não há estatística do período 2003-2010 que perca para outra similar no recorte histórico disponível. Isso ocorre tanto para os índices abrangentes da macroeconomia quanto para minúcias setorizadas e regionais, passando pelo acesso a bens de consumo, à cultura, à educação, à cidadania. E, acima de tudo, pela redução de desigualdade.
O lulismo é, de longe, a maior força isolada no cenário político nacional, exatamente porque não exige simpatia programática pelo PT. O voto antipetista se divide, à esquerda e à direita, em afinidades partidárias e pessoais amiúde incompatíveis no jogo de alianças. O lulismo agrega filiações diversas.
Nenhuma liderança chegará à próxima disputa com a vantagem inicial de Lula. É bobagem omitir esse fato nas análises conjunturais, pois ele se manifesta em dados precisos e aferíveis. Ignorá-los não revela prudência ou isenção do observador, mas uma tendência infantil para o auto-engano. É atitude típica dos comentaristas de direita, que sempre subestimaram as chances do PT nas eleições presidenciais e sempre erraram.
Mas existem grupos no campo oposicionista que não se satisfazem com narrativas confortáveis. Eles aprenderam a respeitar a dimensão político-eleitoral de Lula e vêm lutando arduamente para tirá-lo do páreo.
Não se trata mais de abalar sua imagem pública. O fracasso eleitoreiro do julgamento do “mensalão” mostrou que o prestígio de Lula sobrevive mesmo sob implacável campanha negativa. A própria estratégia golpista refluiu, entre outros motivos, por causa da incerteza quanto aos efeitos negativos sobre o ex-presidente.
A questão, portanto, é impedir a candidatura de Lula, suspendendo seus direitos políticos no TSE ou no STF, sob os convenientes auspícios da Ficha Limpa. Matar o projeto no estado embrionário, com o torniquete inapelável da legalidade.
Eis o motivo da afoiteza com que procuradores e juízes tratam as “suspeitas” contra Lula e sua família. A rapidez garante que um eventual processo transcorra, ou pelo menos seja iniciado, antes que a Lava Jato se desmoralize de vez.
E assim chegamos a uma resposta mais abrangente para a questão do título: a ofensiva contra Lula ocorre porque o Judiciário brasileiro se transformou num mecanismo capaz de atropelar a democracia para satisfazer interesses político-partidários.