Zona Curva

Por que o ódio a Jesus?

No sábado da semana que passou, fui abordado de modo abusivo, insistente, diante de sinal de trânsito. Um grupo de evangélicas me incomodou com a exigência de eu receber um panfleto da sua igreja. Mas de um modo tão antipático, que me deixou em dúvida se aceitaria o impresso

Em condições normais, eu não vacilaria. Leitor que sou da Bíblia, tenho curiosidade em saber quais versículos são distribuídos para a doutrinação de pessoas. No entanto, a forma como me empurravam o folheto, que se tivesse cola ficaria pendurado em minha mão, me fez recusar em silêncio e atravessar a rua. Para quê? Ouvi gritos:

– Jesus te ama!!!

Então respondi, num impulso:

– Eu odeio Jesus!

E já na outra margem, pude ouvir:

– Amém. Aleluia!

Mas tanto o Aleluia quanto o “Jesus te ama” foram ditos com voz de raiva, de quem roga uma praga. Acredito mesmo que se a frase evangélica tivesse poder concreto, faria acionar um motorista louco sobre mim. De tanto amor à minha morte e salvação.

Já depois, ao tomar uma cerveja, o desejo das irmãs fazia eco. Eu me perguntava: será que a maldição vai se cumprir já? E mais grave, me pergunto agora: por que eu, tão religioso na infância, amante das histórias e forma do Velho Testamento, simpatizante da vida de Cristo, como pude falar na rua do bairro onde moro: Eu odeio Jesus?

É claro que nisso há razões subjetivas, que vêm também como uma libertação. Mas não sou louco de me abandonar em público à expressão de pensamentos mais íntimos. Não escrevo literatura em voz alta. A razão é objetiva, social. Ela vem da organização política que o Brasil sofre hoje, em que certas igrejas evangélicas apoiam o fascismo e o atraso de Bolsonaro.

A razão vem do quanto evangélicos infestam o Congresso, a mídia, os bairros populares, com a sua pregação de atraso, de raiva contra a ciência e as artes. Se essas igrejas são Jesus, não pode haver paz entre os amantes da humanidade e evangélicos.

Há pouco, num acréscimo às chamadas razões objetivas, recebi a notícia de que milhares de pessoas participaram de ato evangélico em São Paulo. E pude ler:

“Nas imediações, um vendedor de camisetas colocou um totem com uma foto em tamanho real de Bolsonaro com a faixa de presidente. Participantes tiraram fotos —alguns faziam gesto de arma com os braços, outros faziam um coração com as mãos.

Declarou um empresário: ‘é importante Bolsonaro vir para esta marcha e mostrar que Deus é quem comanda o governo dele’.”

Para esses evangélicos, Cristo encarna o próprio anticristo, na medida em que nega o amor universal e se mistura aos perseguidores, na pior companhia e cia. Jesus entrou para a direita. Por isso, não perguntem mais por que um homem, qualquer homem de formação cristã, fala: eu odeio Jesus.

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No sábado da semana que passou, fui abordado de modo abusivo, insistente, diante de sinal de trânsito. Um grupo de evangélicas me incomodou com a exigência de eu receber um panfleto da sua igreja. Mas de um modo tão antipático, que me deixou em dúvida se aceitaria o impresso
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