Zona Curva

Piruetas à la Disney, batatas superfaturadas e Huck no planalto

A contagem era regressiva e a pergunta de minha filha diária: “pai, quantos dias faltam para o Disney on Ice?” Finalmente, chega o dia. Família e quatro crianças rumam ao ginásio do Ibirapuera para assistir pela segunda vez Mickey e sua turma sobre lâminas no gelo.

Os 30 reais do estacionamento foram só o começo. Saquinho de batata-frita, R$ 12, churro frio, R$ 6, saco de pipoca (grande e com máscara chinfrim), R$ 24, Minnie de uns 20 centímetros de altura, R$100. Tio Patinhas sorri feliz em sua caixa-forte.

Ginásio com metade da capacidade ocupada, apagam-se as luzes e a criançada (pais e mães também) grita de alegria. Esqueço dos preços insanos ao admirar a pequena de boca aberta e olhos arregalados.

O show resume-se a um medley de  trechos curtos das histórias que minha filha sabe de cor e salteado (Nemo, Toy Story, princesas, Pinóquio, Os Incríveis e outras), tudo bem coreografado e embalado por alguns efeitos especiais. O mérito de mister Walt Disney, sem dúvida, reside na sua eterna capacidade de estimular o sonho e a fantasia no imaginário infantil, nisso, ele era craque.

Buzz Lightyear: “ao infinito e além”
Buzz Lightyear: “ao infinito e além”

O que incomoda é a sensação permanente de que para agradar ao maior número possível de crianças, é imprescindível que o espetáculo seja insípido e plastificado. Para mim, o ponto alto do show foram dois curtos bate-papos que ouvi do respeitável público no Ibira.

Cena 1: bate-papo entre mãe loira e mãe morena:

-Luciano Huck dublou o herói dos Enrolados (versão Disney para Rapunzel), diz a loira.

– É, né, ele tá no meu face – responde orgulhosa a morena – um dia, ele será presidente do Brasil .

– Ele e Angélica são o casal top do Brasil – arremata a loira com seriedade.

Cena 2: segundo bate-papo entre mãe e filha (em meio ao tumulto do consumo de bugigangas depois das piruetas de Mickey e sua trupe).

– Mãe, me compra isso? (era um produto qualquer pelos olhos da cara com a chancela Walt Disney).

– Ai, filha – o olhar arrogante e a voz elevada quase num grito para que todos ouçam – deixa para comprar lá na Disney, nós vamos semana que vem.

Impagável. Classe média roots.

Pobre Nemo

O descolado de plantão com ojeriza às ideias médias da classe média (digamos que aí me incluo) pode dizer que tem peças culturais para infantes no SESC ou nos teatros da Bela Vista e Brigadeiro. Por lá, a vibe é a mesma. A diferença básica: falta infra e tem pipoca barata. Assisti Saltimbancos uma vez e o ator vestido de cachorro suava feito um condenado, deve ter se desidratado.

Prometo para minha filha que, no ano que vem (será o terceiro ano seguido),  voltaremos, sua empolgação é contagiante. Me conformo, na próxima, só não posso esquecer de levar a pipoca, o suco e o Ruffles de casa.

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