por Guilherme Scalzilli
A tese do impeachment perde adeptos a cada semana que passa. Nas cúpulas midiáticas, empresariais, partidárias, jurídicas e acadêmicas dissemina-se a visão de que a ideia não é apenas inviável, mas perigosa e inconsequente. Então o que explica a sua permanência nos debates cotidianos?
Acontece que o prolongamento da agonia segue uma lógica de oportunismo político. A ideia é explorar ao máximo o desgaste da imagem do PT e, por extensão, de Lula. Ademais, sem a novela do golpe, outras questões importantes dominariam o noticiário. As estruturas tucanas da corrupção empresarial, por exemplo.
Essa mesmice catastrófica interessa apenas à oposição, que tenta aprisionar o governo federal na retaguarda. O eterno ramerrão do cai-não-cai mantém vivo o discurso da crise, através do qual a direita impõe seus retrocessos, impede o Executivo de propor agendas positivas e adia certas demandas populares.
A obsessão atinge setores da própria blogosfera progressista, acomodada a um “piloto automático” reativo que parece não conhecer perigos além do golpismo. O antigo problema de reverberar os grandes veículos adquire um requinte deletério: mesmo a crítica ao impeachment é uma forma de preservar a sua relevância.
Por isso acredito que a esquerda precisa tomar a iniciativa e dar um passo adiante, deixando as viúvas do golpe afundarem sozinhas no descrédito público. Há narrativas perniciosas sendo construídas e monopolizadas pelo jornalismo conservador, no vácuo da inação governista.
É necessário combatê-las com um esforço mobilizador semelhante ao que venceu a agenda do impeachment. Começando pelos ataques a Lula, que passarão a entreter o antipetismo frustrado.