por Fernando do Valle
Em uma jogada midiática, o juiz Sérgio Moro divulgou ontem interceptações de conversas telefônicas de Lula com Dilma, Jaques Wagner e Eduardo Paes após a confirmação de que o ex-presidente assumiria a Casa Civil do governo federal. Difícil enxergar algo de grave nas conversas. Foi necessário muito jogo de cena e manipulação da imprensa, que acontece agora da forma cada vez mais deslavada, para que se justifique a revolta pelo que foi falado no grampo do magistrado de Curitiba.
Vivemos em tempos sombrios em que uma República paralela instalada na capital paranaense decide os rumos políticos do país e em que conversas privadas do alto escalão do executivo sobre a difícil conjuntura política atual são utilizadas com evidentes propósitos políticos por parte do judiciário e pela grande imprensa.
Uma rápida conversa entre a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula foi gravada mesmo após Moro ter suspendido os grampos. Por volta de 12h17 de ontem o juiz comunicou às operadoras de telefonia a suspensão dos grampos, mas as gravações foram realizadas mais tarde. Mesmo assim, os grampos foram prontamente enviados à TV Globo pelo juiz ou pela polícia federal.
Existe ainda a possibilidade de que Moro grampeou o telefone de Dilma, o que tornaria o ato do juiz ainda mais grave. Fica claro na gravação que é Dilma quem liga para Lula. Ouça o grampo:
Aqui vale uma ressalva, Moro agiu respaldado pelas suas “costas quentes” na imprensa e setores do empresariado, sua presença nos últimos meses em dois eventos da associação LIDE, que reúne donos de importantes companhias brasileiras e capitaneado pelo prefeitável paulistano tucano João Dória Junior, já indicavam o apoio de forças poderosas às atitudes destrambelhadas, para dizer o mínimo, do juiz.
Na manifestação do último domingo, no dia 13 de março, a figura mais incensada não foi nenhum político da oposição e sim Sérgio Moro. O mais constrangedor foi assistir artistas da Globo no protesto em um tal de MoroBloco com direito à camiseta com a estampa do juiz.
Moro já havia grampeado Lula após sua condução coercitiva ao Aeroporto de Congonhas para um depoimento no mínimo no dia 4 de março: (Escute no post do Coletivo de jornalismo Mariachi).
O filósofo Renato Janine Ribeiro fez uma boa reflexão pelo facebook sobre a questão ética e a quebra de privacidade do grampo: “A qualquer momento, um policial e um juiz podem mandar gravar você. Você, empresário, psicólogo, o que seja. Conheço psicólogos que atendem pelo telefone. Podem ser grampeados – e com boas razões, porque, afinal, há clientes que superfaturam ou corrompem, e que contam isso ao terapeuta…. Leia o restante.
Há conflitos na avenida Paulista, 0 que demostra que o momento é delicado. Devemos preservar as garantias constitucionais e o Estado Democrático de Direito, essa é uma responsabilidade de todos.