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“Obama é uma víbora”

 

O diretor Oliver Stone
O diretor Oliver Stone

Crítico frequente da política externa norte-americana, o diretor Oliver Stone declarou em entrevista recente no Japão: “Obama é uma víbora e nós temos que nos voltar contra ele”, referindo-se aos escândalos de espionagem do governo norte-americano. Na última semana, o jornal britânico The Guardian revelou que 35 líderes mundiais foram alvos de escutas do governo norte-americano. A fonte mais uma vez foi o ex-agente da inteligência dos Estados Unidos, Edward Snowden. Ao jornal uruguaio El País, Stone declarou que “Snowden é um heroi que se sacrificou para o bem dos Estados Unidos”.

O interesse do diretor norte-americano pela política internacional, em particular a latino-americana, vem de longa data. O seu primeiro longa-metragem, Salvador, o martírio de um povo (1986) discute a ingerência de los gringos na sangrenta guerra civil salvadorenha. A política interna dos States foi abordada em filmes como Nixon (1995) e JFK (1991). O seu maior sucesso de bilheteria, Platoon (1986), reflete sua experiência como combatente no Vietnã. Com Platoon, Stone ganhou o Oscar em 1987 derrotando cineastas como David Lynch e Woody Allen, que concorriam com Veludo Azul e Hannah e suas Irmãs, respectivamente. Na entrega do prêmio, apresentado por Elizabeth Taylor, o cineasta dá a letra em discurso antibelicista. Veja:

Salvador inspira-se na história de Richard Boyle, fotojornalista e roteirista que cobriu os conflitos salvadorenhos na década de 80 e assina o roteiro do filme com Stone. Interpretado pelo ator James Wood, Boyle pertence à estirpe dos correspondentes de guerra que não se refugiam em hotéis cinco estrelas. O fotógrafo cobre a guerra no meio do povo salvadorenho em uma das mais sangrentas guerras civis da História das Américas (75 mil mortos). Stone retrata com realismo e sem cortes o conflito entre o governo de direita e o movimento guerrilheiro Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN).

Boyle (de pé), vivido por James Woods, no meio do conflito salvadorenho

Boyle conta com dois parceiros no filme, o fotógrafo John Cassady (interpretado por John Savage), o personagem foi baseado no experiente fotógrafo em zona conflagradas como Líbano e Nicarágua, John Hoagland. O alcoólatra Doutor Rock, em magistral interpretação de James Belushi, também acompanha Richard Boyle na dura rotina salvadorenha. Acusado de comunista e amigo dos guerrilheiros por um funcionário do governo americano, Boyle assume que é de esquerda. Em uma das cenas antológicas do filme, Rock dopa antes de uma entrada ao vivo a arrogante repórter de TV, loira e WASP, que cobre a guerra segundo as versões oficiais da CIA.

Stone filma também sua versão do assassinato do arcebispo de San Salvador, Óscar Romero. Romero só foi aceito como arcebispo pelo governo por seu perfil conservador. Com o tempo, passou a ser um intransigente defensor dos Direitos Humanos. Romero foi assassinado durante uma missa por um atirador do exército salvadorenho. O fato recrudesceu o conflito.

O arcebispo Óscar Romero foi assassinado durante uma missa

A política latinoamericana em South of a border

O interesse de Oliver Stone pelo novo cenário político latino-americano o levou a filmar o documentário South of the border, lançado em 2009. Nele, o cineasta entrevista vários líderes da região: o venezuelano Hugo Chávez, o paraguaio Fernando Lugo, os argentinos Néstor e Cristina Kirchner, o equatoriano Rafael Correa, o boliviano Evo Morales, o cubano Raúl Castro e Lula.

A ironia do documentário é como na época das filmagens de South of the border, Oliver Stone tinha reais esperanças em mudanças substanciais na política externa norte-americana com a eleição de Barack Obama para a Casa Branca. Com duras críticas à mídia norte-americana: o reacionarismo e ignorância ianque de âncoras e ‘jornalistas’ de redes de TV como CNN e FOX News beira o tragicômico.

O filme retrata o ódio uterino de parte dos norte-americanos aos presidentes de esquerda da América do Sul. Stone explica o que o motivou na realização do documentário em 2009: “acho Hugo Chávez uma figura extremamente dinâmica e carismática, um personagem fascinante. Mas quando volto aos Estados Unidos não paro de escutar essas histórias de terror sobre o ditador, o cara mau, a ameaça à sociedade americana. Acho que o projeto começou a partir da demonização de líderes latinos pela mídia americana”.

O escritor e cientista social paquistanês Tariq Ali, voz crítica às políticas neoliberais e estrela das edições do Fórum Social Mundial de 2003 e 2005, serve de guia ao espectador em meio aos depoimentos dos governantes latino-americanos.

Kirchner lembra de sua luta contra as políticas neoliberais do FMI e confessa uma estarrecedora conversa que teve com George Bush em uma reunião em Monterey, no México. Segundo o argentino, Bush disse que as guerras historicamente sempre fizeram bem aos Estados Unidos e impulsionaram o crescimento econômico daquele país. Veja Salvador, o martírio de um povo dividido em 8 partes:

parte 1

parte 2

parte 3

parte 4

parte 5

parte 6

parte 7

parte 8

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