Há um ano, o jatinho Cessna 560-XL caiu na cidade de Santos e matou o candidato à presidência Eduardo Campos, 49 anos, e mais 6 pessoas. Vários imóveis foram atingidos na queda, causando prejuízos a moradores do bairro do Boqueirão, que até hoje não foram indenizados.
A juíza Natália Monti dos Santos declarou ao jornal Folha de S Paulo que a “obscuridade” em torno do proprietário do avião inviabiliza as reparações. O episódio demonstra a imbricada relação entre os partidos políticos e o poder econômico.
Curioso que ontem os deputados aprovaram em segundo turno por 317 votos a favor, 162 contra e uma abstenção, dispositivo que permite às empresas fazerem doações de campanhas aos partidos políticos. A proposta de emenda à Constituição será encaminhada ao Senado.
Na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a empresa AF Andrade consta como proprietária da aeronave, ela nega sua responsabilidade e defende-se com o argumento de que era arrendatária da aeronave e que transferiu os direitos do arrendamento aos empresários João Carlos Lyra e Apolo Vieira, que teriam cedido o Cessna ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), partido de Eduardo Campos.
O PSB escusa-se afirmando que as indenizações não cabem ao partido e sim aos proprietários do avião, com registro na Anac, ou ainda a Bradesco Seguros, que assegurou a aeronave.
Em setembro do ano passado, um mês após a morte de Campos, o PSB divulgou a seguinte nota: ”a aeronave de prefixo PR-AFA, em cujo acidente faleceu Eduardo Henrique Aciolly Campos, nosso candidato à presidência da República, teve seu uso – de conhecimento público – autorizado pelos empresários João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Apolo Santana Vieira. Os termos facultados pela legislação eleitoral, e considerando o pressuposto óbvio de que seu uso teria continuidade até o final da campanha, pretendia-se proceder à contabilização ao término da campanha eleitoral, quando, conhecida a soma das horas voadas, seria emitido o recibo eleitoral, total e final.” No Tribunal Superior Eleitoral, não há prestação de contas em relação à utilização do avião.
A morte do ainda jovem político pernambucano sensibilizou o País e aconteceu no mesmo dia de seu avô, Miguel Arraes, morto em 2004. O acidente interrompeu uma carreira política em ascensão e é ainda mais triste que tenha escancarado a controversa relação entre a esfera pública e privada.
Com informações da EBC e da Folha de S Paulo.