Com edição nervosa, o documentário Botinada, a origem do punk no Brasil, com direção da ex-cara roqueira da MTV, Gastão Moreira, relembra as histórias e tretas do punk no final dos anos 70 e início dos 80
O início já surpreende. Abrem-se as cortinas com frase de Chico Buarque (isso mesmo!), o ícone da MPB soltou na época: “se o punk é o lixo, a miséria e a violência, então não precisamos importá-lo da Europa, pois já somos a vanguarda do punk em todo o mundo”.
Para quem acompanhou a cena roqueira no início dos anos 80, vai lembrar de figuras como Wander Wildner (Os Replicantes), Redson (Cólera) e Mao (Garotos Podres), que relatam os primórdios do movimento punk tupiniquim. No meio da fauna punqueira, o depoimento de uma mãe de punk é impagável: “eu achava meio ridículo, ele passava a noite colocando tachas nas roupas, saindo com aquele cabelão arrepiado, muita gente achando bonito, tirando as minhas razões, será que eu que estou errada”, mãe é mãe.
Algumas discussões estão presentes no documentário: se a origem do punk brasileiro foi em São Paulo ou Brasília, os ‘verdadeiros’ punks moravam no ABC ou na capital paulista, a violência atrapalhou o movimento. Enquanto isso, Clemente só gargalha. Figura essencial do punk brazuca, o líder do Inocentes rememora: “se o punk não tivesse sido inventado em Nova Iorque, teríamos inventado aqui” e mais uma vez cai na gargalhada.
Em quatro anos de pesquisa, Gastão realizou 77 entrevistas e lançou Botinada em 2006 (disponível no Youtube) . O ex-VJ Gastão Moreira atualmente participa do Programa H, no canal Glitz (canal 95 da NET) e durante cinco anos comandou o programa de rock Gasômetro na rádio Atlântida, no sul do país.
O confronto da atitude punk com a sociedade da época fica escancarada no relato da invasão punk do Gallery, boate da alta classe na época. Proprietário do Gallery, José Victor Oliva, inventou o show das bandas Verminose e Inocentes na casa e quis barrar a entrada dos punks. A saia justa fez Oliva liberar a entrada de 40 punks. A falta de sintonia entre plateia habitué, punks e as bandas mostram o abismo que separava os dois mundos e é narrada por Kid Vinil, jornalista e ex-vocalista do Magazine.
A força do documentário consiste em mostrar como a energia e a juventude de uma geração escreveu uma das páginas mais interessantes e engraçadas (com mais uma gargalhada de Clemente) da história do rock brasileiro.
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