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O lírico jazz de Stan Getz e a música brasileira

GETZ- Foi o guitarrista Charlie Byrd quem apresentou a música brasileira ao saxofonista Stan Getz e, em 1962, ambos gravaram o disco Jazz Samba. No ano seguinte, o judeu-americano Getz, apaixonado pela música brasileira da época, convocou João Gilberto, Astrud Gilberto e Tom Jobim e gravou o memorável Getz/Gilberto. O álbum, que completou no ano passado 50 anos de gravação, tornou-se um clássico e levou a música tupiniquim para os quatro cantos do planeta.

Stanley Gavyetsky (Stan Getz)  nasceu em 2 de fevereiro de 1927 em Filadélfia. Os seus pais eram judeus naturais da Ucrânia, que imigraram de Kiev, na Ucrânia em 1903. O músico morreu em 6 de junho de 1991.

 

O baixista Tião Neto, Tom Jobim, Stan Getz, João Gilberto e o baterista Milton Banana em gravação de Getz/Gilberto
O baixista Tião Neto, Tom Jobim, Stan Getz, João Gilberto e o baterista Milton Banana em gravação de Getz/Gilberto

Admirador de violonistas brasileiros, em 1963, antes da gravação de Getz/Gilberto, o músico norte-americano tinha gravado Stan Getz With Guest Artist Laurindo Almeida, com o genial e, infelizmente pouco conhecido, músico brasileiro que viveu nos Estados Unidos, Laurindo Almeida, e Jazz Samba Encore!, com Luiz Bonfá no violão e Tom Jobim no piano.

João Gilberto via com desconfiança a gravação do disco com Getz. A mulher de Getz na época, Monica, teve que convencê-lo a comparecer aos ensaios de Getz/Gilerto no anexo do Carnegie Hall, em Nova Iorque.

Depois de muita insistência, João acabou entrando no estúdio, nos dias 18 e 19 de março, para gravar o álbum que abriria as portas para a música brasileira no exterior.

Na gravação do disco, João Gilberto e Getz se estranharam. João não tinha gostado da gravação de Um Samba de uma nota só, de Tom Jobim, e tenta “ensinar” Getz a executar a canção. João Gilberto e sua conhecida intransigência perde a paciência com a interpretação do gringo e desabafa para Tom Jobim: “fala para o gringo que ele é burro”.

Capa do histórico Getz/Gilberto

 

Profissional aos 15 anos

O saxofonista Stan Getz tornou-se músico profissional aos 15 anos, e um ano mais tarde, já fazia parte da banda do trombonista Jack Teagarden, que o ensinou, entre outras coisas, a beber. Com apenas 17 anos, já era um alcoólatra, e logo depois, como muitos outros músicos da época, passou a usar heroína. Getz não largou seus vícios até os 60 anos de idade.

Getz sempre contou com uma incrível veia lírica, talvez originária de sua família judia-russa e da influência de jazzistas dos anos 30 e 40. Stan Getz teve passagens por bandas consagradas como as de Stan Kenton, Jimmy Dorsey e Benny Goodman, o último chegou a despedi-lo em uma turnê por Nova Iorque quando o músico não apareceu para tocar em alguns shows.

Getz casou duas vezes, em 1946 e 1956, e teve cinco filhos. Em 1947, entra na brilhante banda de Woody Herman Second Herd e torna-se um dos Quatro Irmãos (Four Brothers), um naipe de saxofones que incluía feras como Zoot Sims, Al Cohn e Serge Chaloff. Um ano mais tarde, grava seu curto e lindo solo para Early Autumn, de autoria do compositor Ralph Burns, na banda de Herman. Quando o disco chega às lojas, Getz se transforma em uma das grandes estrelas do jazz.

Stan Getz nasceu em 2 de fevereiro de 1927

Em 1950, o saxofonista deixa a banda de Herman e, nos próximos 40 anos, lidera inúmeros grupos, todos com músicos de primeira linha, além de proporcionar várias chances a músicos desconhecidos em início de carreira. Getz tocou muitas vezes também com seu amigo e trompetista, Chet Baker.

Saiba mais sobre o parceiro de Getz, o genial Chet Baker

Getz morreu em 6 de junho de 1991 em Malibu, na Califórnia e  sua biografia Stan Getz: a life in Jazz, de Donald L. Maggin, pode ser encontrada em inglês na loja da Amazon.

O livro é, ao mesmo tempo, um hagiografia e uma litania das últimas angústias que afligiram Getz: seu alcoolismo e seu vício em drogas, que causaram ao músico uma temporada de seis meses na prisão em 1954; sua dolorosa falta de articulação na fala; suas duas tentativas de suicídio; seus corrosivos problemas judiciais com a segunda esposa; seu descontrole psíquico; seu imenso ego e sua luxúria constante, causadores de inúmeros problemas.

Sobre sua personalidade, o seu amigo e também saxofonista Zoot Sims definiu-o assim: “Stan é um amável bando de caras”.

 

O ídolo Lester Young

Sem dúvida nenhuma, Getz, como uma penca de outros saxofonistas, foi influenciado pelo genial saxofonista Lester Young. Getz e sua espiritualidade construiu esplendorosas melodias que nos leva a crer que Young retornava à Terra. O saxofonista de origem judia adiciona ao som de Young um romantismo que o tornou um ídolo popular nos 50 e 60.

O espetacular Lester Young influenciou toda uma geração de saxofonistas

Com o tempo, Getz abandonou um pouco a influência de Young para soar mais semelhante a músicos como Coleman Hawkins e Ben Webster. Já nos anos 60, Getz aproximou-se de seu grande amigo e admirador, Miles Davis. Os dois, com diferença de menos de um ano de idade, morreram apenas com um pequeno espaço de meses e quilômetros de um para o outro na Califórnia.

Stan Getz nunca teve medo de experimentar. Em 1961, convocou o arranjador e compositor Eddie Sauter para escrever uma peça para sua improvisação, e o resultado deste trabalho foi Focus, composição dividida em sete partes e com duração de 35 minutos para uma pequena orquestra de cordas. A parte mais longa ultrapassa seis minutos e a música flutua entre Bartók e boa trilha musical para cinema. Ele próprio considerou este o seu melhor disco.

 

Stan Getz toca Wave, de Tom Jobim, na Dinamarca

Getz interpreta Seven Steps to Heaven, de Miles Davis e Victor Feldman

Stan Getz com Chet Baker, em Estocolmo (1983)

Stan Getz interpreta I’m late, I’m late do genial disco Focus que Getz gravou com Eddie Sauter

Night Rider, também do disco Focus

Ouça na íntegra Getz/Gilberto

 

Fonte usada: Revista New Yorker.

Embarque no sax de John Coltrane

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