por Fernando do Valle
O idiota quer matar bandido, petista, imigrante, índio, “tudo aquilo que não presta”, como disse um deputado gaúcho, idiota de alta patente.
O idiota acredita no patrão, no apresentador celerado da televisão e até no patinho da FIESP.
O idiota acredita que “todo político rouba”, outro dia estacionou na vaga de idoso no banco, “era rapidinho”.
O idiota não lê porque tá cansado do serviço.
O idiota acha que esse negócio de escrever é “coisa de vagabundo, de quem não tem o que fazer”.
O idiota nunca questiona a imprensa e o funcionamento do mercado, afinal de contas, ele é um cidadão de bem “cansado de pagar tantos impostos”.
O idiota paga pau pros Estados Unidos, repete que “lá as coisas funcionam”. Adora se entupir de pipoca e refrigerante no shopping assistindo ao último sucesso de Hollywood, depois, ainda com fome, vai pra praça de alimentação, onde comenta: “que filme bem feito, cheio de efeitos especiais, por isso que gastam tantos milhões de dólares”.
Perto do quilo onde almoça todo dia, o idiota viu uma morena de minissaia e comentou com o colega: “gostosa, né, essa mulherada de hoje anda tudo fácil”. O colega da firma não respondeu. O idiota teve a certeza de que o amigo era gay.
Duas vezes por semana, no mínimo, solta na conversa no elevador, no clube ou na casa de amigos: “não sei onde esse país vai parar”.
Antes o idiota tinha vergonha, agora tem orgulho.
Como eu também sou idiota (só às vezes, ok), tenho uma certeza: o número de idiotas cresce e isso uma hora vai dar merda.