por Guilherme Scalzilli
É absurda a ideia de que entre os governos Dilma Rousseff e Michel Temer há pouca diferença programática. Basta observar o que os golpistas fizeram com as áreas sociais, culturais e diplomáticas do ministério para se ter noção do retrocesso em andamento.
Mas há um diferencial ainda mais evidente: o PSDB. José Serra, Fernando Henrique, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, todas as lideranças do partido foram agraciadas com cargos nos vários escalões da máquina. Desde 2002 não ocorria algo parecido.
Supondo inevitável que o PMDB e os partidos nanicos aderissem a qualquer vitorioso em 2014, o que temos é uma versão próxima de um eventual governo Aécio. O golpe inverteu o resultado das eleições. Sem eleições.
Aí percebemos por que é falacioso afirmar que o voto em Dilma dá legitimidade aos atos do seu vice. Temer não apenas traiu o projeto administrativo que o elegeu, mas também abraçou um partido adversário na disputa, rejeitado pelas urnas.
Por mais que Dilma tenha recuado em suas plataformas, manter peessedebistas fora do Planalto representou uma fidelidade mínima a compromissos de campanha. Esse detalhe estava claro na polarização do segundo turno e, como vemos, tinha enorme importância para os rumos da gestão federal.
No empoderamento do PSDB revela-se a essência antidemocrática do impeachment. A entrega de postos estratégicos ao partido viola princípios básicos de representatividade, impondo ao país uma agenda que ele não debateu e muito menos aprovou.
A guinada tucana explica a sanha vergonhosa com que os golpistas tomaram de assalto o poder interino. A consumação rápida e implacável da hegemonia do PSDB é uma forma de nocautear a sociedade brasileira antes que ela perceba o tamanho do prejuízo.
Publicado originalmente no Blog Guilherme Scalzilli.