Zona Curva

O conto infantil segundo Bolsonaro

Neste começo de 2020, o breve tuitou:

“Você lembra como eram os livros p/ nossos filhos em governos anteriores? Carregados de ideologias, ofendiam as famílias, atentavam contra a inocência das crianças. Isso mudou. Estamos ensinando o correto, aquilo que os pais sempre desejaram para seus filhos” (Jair M. Bolsonaro)

Contam que depois desse tuíte, Jair M. continuou neste primor de interpretação literária:

Olhem só o despropósito, o absurdo que era a literatura infantil nos governos que chamam de democracia. Tinha um tinhoso, um tal de Hans Christian Andersen, um cara terrivelmente gay. E olhem só esta aberração que ele dava, ele dava, entenderam?, que ele dava o nome de O Soldadinho de Chumbo. O degenerado começava assim:

“Numa loja de brinquedos havia uma caixa de papelão com vinte e cinco soldadinhos de chumbo, todos iguaizinhos, pois haviam sido feitos com o mesmo molde”.

Vocês já viram, o recado era pra desmoralizar as nossas forças armadas. Assim, como quem não quer dizer nada. O pervertido insinua que nossos soldados são todos iguais como bonequinhos, de um mesmo molde, do Oiapoque ao Chuí. E continua o depravado:

“Apenas um deles era perneta: como fora o último a ser fundido, faltou chumbo para completar a outra perna”.

O que é isso? Ele queria dizer que faltou bala, que faltou chumbo em nossos quartéis? Os comunistas sempre usaram bem isso. E continua o degenerado:

“Mas o soldadinho perneta logo aprendeu a ficar em pé sobre a única perna e não fazia feio ao lado do seu batalhão”.

Olhem só, isto é um estímulo à indisciplina militar. Nós jamais poderíamos admitir um soldado de uma perna só. E prestando continência! Imaginem o deboche que era um soldado levantar o braço e cair numa perna. Mas vamos adiante. Depois de umas enroladas, o indivíduo cravava:

“Havia uma bonequinha da maior beleza, porém, era uma jovem que estava em pé na porta do castelo. Ela também era de papel, mas vestia uma saia de tule bem franzida e uma blusa bem justa. Seu lindo rostinho era emoldurado por longos cabelos negros, presos por uma tiara enfeitada com uma pequenina pedra azul. A atraente jovem era uma bailarina, por isso mantinha os braços erguidos em arco sobre a cabeça. Com uma das pernas dobrada para trás”

Sabem o que é isso? É sexo na infância. Olha, não demora muito e eles põem na cabeça de nossas crianças que o soldadinho vai foder a bailarina! Está claro, só não vê quem não quer: a bailarina tem uma perna levantada, opa!, aí o cara disfarça dizendo que a perna está dobrada para trás. Para trás, vocês ouviram bem? E o que é que tem atrás da bailarina?!, É ou não é a bundinha se oferecendo? Ele nem esconde as intenções maldosas do soldadinho excitado:

“O soldadinho a olhou longamente e logo se apaixonou, e pensando que, tal como ele, aquela jovem tão linda tivesse uma perna só.

“Mas é claro que ela não vai me querer para marido”, pensou entristecido o soldadinho, suspirando. ‘Tão elegante, tão bonita…’”

Acharam pouco? Olhem só. Logo, logo, na hora das crianças dormirem, esse pedófilo do Andersen mostra que a hora é de bagunça. Aí está o verdadeiro bacanal::

“Quando os ponteiros do relógio marcaram meia-noite, todos os brinquedos se animaram e começaram a aprontar mil e uma. Uma enorme bagunça!

As bonecas organizaram um baile, enquanto o giz da lousa desenhava bonequinhos nas paredes. Os soldadinhos de chumbo, fechados na caixa, golpeavam a tampa para sair e participar da festa, mas continuavam prisioneiros. Mas o soldadinho de uma perna só e a bailarina não saíram do lugar em que haviam sido colocados”

Pois é exatamente aí que começa a safadeza:

“O soldadinho não conseguia parar de olhar aquela maravilhosa criatura. Queria ao menos tentar conhecê-la, para ficarem amigos”.

Amigos?! Sei, aí tem. Então, enrolada vai, enrolada vem, o maquiavélico volta com uma paixão imoral, anticristã:

“E, na porta do castelo, lá estava ela, a bailarina: sobre uma perna só”.

Mas está claro, só não vê quem não quer, a bicha do autor deixa por baixo a frase: a bailarina está nua! Sim, nua! Isso é insinuado. Ela está “nua com os braços erguidos acima da cabeça, mais bela do que nunca. O soldadinho olhou para a bailarina, ainda mais apaixonado, ela olhou para ele, mas não trocaram palavra alguma. Ele desejava conversar”.

Conversar, sei! Mas agora é que a pornografia infantil fica mais interessante:

“De repente como foi, como não foi, o garotinho agarrou o soldadinho de chumbo e atirou-o na lareira, onde o fogo ardia intensamente.

O pobre soldadinho viu a luz intensa e sentiu um forte calor. A única perna estava amolecendo e a ponta do fuzil envergava para o lado. As belas cores do uniforme, o vermelho escarlate da túnica e o azul da calça perdiam suas tonalidades”.

Sim, bacana, não é? O soldadinho queimando, sei. Ele está mesmo é queimando é de paixão criminosa. E continua a descrição sem qualquer pudor:

“O soldadinho lançou um último olhar para a bailarina, que retribuiu com silêncio e tristeza. Ele sentiu então que seu coração de chumbo começava a derreter — não só pelo calor, mas principalmente pelo amor que ardia nele.

Naquele momento, a porta escancarou-se com violência, e uma rajada de vento fez voar a bailarina de papel diretamente para a lareira, bem junto ao soldadinho. Bastou uma labareda e ela desapareceu. O soldadinho também se dissolveu completamente”

Minha gente, isso é foda na metáfora. O soldadinho e a bailarina queimaram, mas foi no fogo da paixão. De tara. Estão entendendo? É preciso saber o que essas mentes que só pensam em sexo fazem. É assim que eles desencaminham a infância brasileira:

“No dia seguinte, a arrumadeira, ao limpar a lareira, encontrou no meio das cinzas um pequenino coração de chumbo: era tudo que restara do soldadinho, fiel até o último instante ao seu grande amor.

Da pequena bailarina de papel só restou a minúscula pedra azul da tiara, que antes brilhava em seus longos cabelos negros”.

Em resumo: essa é uma historinha não dá nem para repetir, porque acende umas ideias estranhas na gente. Até eu, adulto, fico meio teso. De uma vez por todas: uma desgraça dessas tem que estar fora de nossas bibliotecas. Corta esse tarado ligeiro de nossas crianças. No Brasil novo, esse degenerado Andersen não tem vez. Corta! E fim de papo. Vão reclamar lá pro papa, que é chegado. Comigo, não.

Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. Tá oquei?

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O conto infantil segundo Bolsonaro
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