Na fila do segundo dia do Lollapalooza 2013, camisetas pretas e de bandas, tradicionais no público de show de rock, eram raras. A maioria tinha passado no brechó do indie fashion. Talvez com Slayer ou Sepultura no lineup, a galera fosse outra.
Munido de paciência depois de ler reclamações sobre a desorganização do primeiro dia, não precisei dela e consegui sentir o primeiro cheiro de cocô de cavalo (presente em todos os cantos do Jóquei) em apenas 15 minutos. Entrada super tranquila.
Faltando pouco para às 16h, acelero para assistir o Tomahawk, uma das dezenas de bandas de Mike Patton, o lendário vocalista do Faith No More. Som pesado e distorcido sob um sol ardido, Patton ensandecido tenta animar os tais dos hipsters com uns dois: “vamos lá, carrrralho” e nada. Ponto para ele que nunca se acomodou com o sucesso e sempre se arrisca.
Dez minutos foram mais do que suficientes para suportar o sonzinho paumolescente do Two Door Cinema Club, tentei também o eletrônico do Zeds Dead na tenda Perry. Invejei uma fã que pulava em poça de água feliz da vida, haja ecstasy na cabeça.
Fiquei na dúvida entre Alabama Shakes e Franz Ferdinand, que tocavam no mesmo horário. Decidi pelo fifty, fifty. O vocalista Alex Kapranos do FF sente-se em casa em Sampa que adora seus hits de pop rock compostos sob medida para as arenas de grandes festivais. Boa receita da banda: diversão, gringo se enrolando no português e corinho nos refrões.
Corro ao palco alternativo para o Alabama Shakes. O vozeirão da vocalista, Brittany Howard, acompanhada pelo som de um antigo órgão e banda impressionam logo de cara. Grande show, um dos melhores do dia. Pena que o som do baixo estourou várias vezes, dava vontade de desligá-lo. Ficou o desejo de vê-los em local menor e com som redondo.
Hora da principal atração da noite, o Queens of Stone Age. Não entendi até agora como não foram escalados para fechar a noite. A banda é ótima e enfilerou hits como “Little Sister” e “No One Knows”. O novo baterista, Jon Theodore, ex-Mars Volta, simplesmente detonou. O que incomoda, por vezes, no QOSA, é o som meio marcial e a total ausência de qualquer tipo de swing.
Chegou a hora e a vez de Criolo, o orgulho do Grajaú, zona sul da capital, e sua jaqueta da Gaviões. Sua mistura de rap-samba-rock embalada por sua dancinha de umbanda recebem constantes petardos de críticos nerds que adoram incensar aquela banda do interior da Islândia. De outro lado, Criolo foi eleito o ídolo da vez de muitos descolados de plantão.
Com certeza, ele chegou até aqui por mérito e não pelas mãos de descolados baba-ovo, muitos deles já o substituíram por qualquer banda “que está bombando em Nova Iorque”. Criolo tem talento e trouxe tempero brasuca no meio de dezenas de atrações gringas. A área do palco alternativo foi acanhada para o público que escolheu assistir o show.
A boa banda com Daniel Ganjaman, que já tocou com boa parte da cena alternativa paulistana e naipe de metais, e músicas como “Bogotá” e “Não existe amor em SP” cantadas pela galera provam que Criolo veio para ficar. No final, recado: “paz para todos e para os irmãos que não puderam colar”. Translation: os ‘ irmãos’ não ‘descolaram’ 350 paus.
O competente blues rock do Black Keys fechou a noite. Já cansado, fiquei mais no fundo da galera e vi muitos não darem a menor bola ao show conversando de costas para o palco. Perdi ‘Lonely Boy’ e o finzinho do show para fugir da muvuca da saída. Fiquei com vontade de voltar em 2014, o que, no frigir dos ovos, é bom sinal.