De imediato, pensamos nele como um idiota ou imbecil. Mas isso é muito leve. Não se deve criminalizar um idiota, coitado, que chegou a esse estado em caminhos naturais, digo, por infelicidade da natureza. Nem tampouco ele pode ser visto como um imbecil, que se tornou ou se fez assim muito contra a vontade
Bolsominion – Jamais alguém gostou de ser tido como um deficiente cognitivo. Quero dizer, o bolsonarista ou bolsominion possui traços de ambos, com a diferença que ele possui orgulho do seu modo degenerado de ser. E com isso se torna um desinibido da própria e com a própria estupidez. Antes de hoje, o bolsonarista estava escondido nas sombras. Ele perambulava nas trevas, oculto então a resmungar entre seus pares:
– Feminista é tudo vagabunda.
– Negro é burro. Negro é sub-raça.
– Mulher boa é a minha mãe. E olhe lá.
– Comunista bom é comunista morto.
– Terrorista. É tudo terrorista.
– Traveco, travestil (!), bicha, veado ou anormal é tudo igual. Tem que ser eliminado.
– A família em primeiro lugar. E a família deve ser pai e mãe cristãs da antiga igreja. Aquela que rezava em latim.
Ao que o interrompe outro bolsominion:
-Latin?! A Igreja antiga latia?
-Não, animal, latim é a língua que se falava em Portugal. Antes do português, entendeu? A língua cristã.
– Mas Cristo falava latim?
– Falava. Não me interrompa. Você tá parecendo comunista.
E não pensem que abuso da ficção. Eles são assim e mais um pouco. Tentem explicar a um bolsonarista que o capitão (no sertão nordestino, capitão é penico) que o capitão é racista. O bolsominion não acreditará. Então você pode tentar um recurso infalível: olhe para o pobre ignorante diante de si e aponte que ele, descendente de negro, não podia votar em um fascistão. Fale que se o bolsominion é negro, como pode votar num atraso?
Sabem o que acontecerá? O bolsonarista vai espalhar que você é que é racista. Por quê? Porque o chamou de negro. “Eu, negro?!”. Você nem pode responder: “Não, negra é a tua mãe. O teu pai é que é”. O bolsominion partirá para a briga, tão insultado ele se vê. Logo ele ser chamado de negro! O racista comunista bem merece um tiro
O bolsonarista pode matar. Se há uma coisa comum à espécie é o perigo que representa para a humanidade. Ele assassina toda diferença. Ele executa qualquer sutileza do pensamento. Ele não só é perigoso por encarnar os preconceitos seculares e fazer disso um programa de Estado. Ele não é só o que vai contra qualquer conquista que é “coisa de esquerda”. De passagem, anoto que se há um sentido que o bolsonarista dá à palavra conquista é “tomar de assalto, subjugar o território inimigo”. Ou então, quando romântico, conquista para ele é levar para a cama uma fraquejada do sexo. Aliás, levar para a cama, não. Bolsonarista não leva ninguém pra cama. Ele come, porque conquista é conquista.
Mas eu me referia ao perigo dos bolsonaristas em outra dimensão. Isso quer dizer: eles arremedam um Estado de Direito para derrubar o Direito e a civilização. Exemplos? Sintam um Ministro da Educação que chama um jornalista de agente da KGB em pleno 2019. Olhem um tal ministro da educação que escreve sobre Cervantes e publica as maiores barbaridades, como o “Dom Quixote sedimentou na cultura ibérica o ideal de comportamento cavalheiresco”. E pensem ainda numa senhora de Direitos Humanos que vê o mundo nas cores rosa e azul. Que fala em sermão que na Holanda os pais masturbam bebês. Depois, peguem um individuozinho louco que nas Relações Exteriores vê as mudanças climáticas como obras de marxistas. Ou vejam um capitão que bate continência para a bandeira dos Estados Unidos. (Nordeste do Brasil, mais uma vez, você é vanguarda). E como se fosse pouco, olhem bolsonaros que elogiam e dão emprego a chefes de milícia. Mais que elogiam, abrigam chefes de pistoleiros, como o capitão em Brasília incentiva e abriga milicianos. Como o filho e toda sua boa gente, tutti buona gente. Que são cúmplices do assassinato de Marielle.
Por isso, nem tentem falar em cultura ou educação com um bolsonarista. Se não é cultura de laboratório de exames, ele não sabe o que é. Mas sabe e pode puxar uma pistola pela agressão e acinte, como falava um deputado na ditadura. Ou seja: quando a Censura Federal proibiu em Brasília a encenação da peça Um Bonde Chamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Sátiro para que ele agisse em defesa do teatro. Lá pelas tantas, a atriz deu um grito:
– Viva a Democracia!
Ao que o deputado respondeu:
-Insulto eu não tolero!
Bolsonaristas não sabem o que é democracia, arte, ciência ou cultura. Nem por isso são cachorros. Mas mordem.
Até quando as mazelas políticas vão se sobrepor às narrativas culturais no Brasil?