por Elaine Tavares
A foto abaixo é uma representação, mas no interior do Brasil, em vários estados, e principalmente no Mato Grosso do Sul, os índios estão sendo mortos em nome da ganância do agronegócio. Não satisfeitos em deter já 62% das terras agricultáveis, os fazendeiros querem mais e mais, avançando para cima das terras indígenas, expulsando e provocando mortes. É tempo de a sociedade agir.
Ontem (dia 14) pela manhã, o Guarani-Kaiowá e agente de saúde indígena Cloudione Rodrigues Souza, 26 anos, foi morto a tiros no Mato Grosso do Sul. Segundo relatos do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e do Instituto Socioambiental (ISA), um grupo de cerca de 70 fazendeiros atacou os indígenas a tiros na Fazenda Yvu, vizinha à reserva Tey’i Kue, no município de Caarapó (MS).
Pelo menos seis indígenas foram hospitalizados com ferimentos de arma de fogo, inclusive uma criança de 12 anos. De acordo com relatos obtidos pelas duas entidades, os fazendeiros se aproximaram em caminhonetes, motocicletas e um trator e atiraram. Fugindo dos tiros, os indígenas correram para dentro da reserva e áreas próximas.
Nota de Repudio da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira aos ataques sofridos pelos indígenas do povo Guarani-Kaiowá do Tekohá Tey Jusu, município de Caarapó, Mato Grosso do Sul.
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) REPUDIA VEEMENTE os ataques contra os indígenas do povo Guarani-Kaiowá do Tekohá Tey Jusu, município de Caarapó, Mato Grosso do Sul, sofrida ontem (14 de junho), resultando em morte de um indígena e vários feridos.
Denunciamos novamente que nos últimos anos o extermínio das populações indígenas desse país, principalmente no sul do Brasil seguiu sem parar, com mecanismos mais sutis e eficazes, acobertada pela chancela do Estado Brasileiro. As invasões das terras indígenas promovidas por grupos e setores, é referendada por um modelo de desenvolvimento entendido como o único capaz de promover o crescimento. Tem-se, assim, o massacre, a agressão, a discriminação, criminalização e o racismo contra as populações indígenas que vivem em áreas visadas para a expansão de um modelo de desenvolvimento baseado no agronegócio.
Não há uma discussão de ações afirmativas e políticas concretas de defesa e proteção dos direitos indígenas, para garantir as condições de existência e, o mais importante, assegurar as demarcações de terras tradicionais destes povos, condição sem precedente para a VIDA.
A COIAB exige que as autoridades competentes averiguem com rigor e com agilidade as ameaças e os crimes cometidos contra os indígenas do Tekohá Tey Jusu e que os autores desse crime sejam julgados e condenados. Os povos indígenas da Amazônia Brasileira reiteram que é inaceitável e inadmissível continuar os ataques e o genocídio dos povos indígenas. Não ficaremos calados e de braços cruzados diante dessa violência vivida por nós há 516 anos.
Manaus-AM, 14 de junho de 2016.
Coordenação Executiva da COIAB
Para compreender o mundo indígena
O Brasil vive desde há anos o fortalecimento do movimento indígena autônomo e radical. A proposta de uma emenda constitucional (PEC 215) que retira da presidência a prerrogativa de definir as demarcações jogando a decisão para o Congresso Nacional levantou os povos numa luta renhida. Afinal, os indígenas sabem muito bem o que está em jogo: a cobiça do empresariado rural pela terra.
Diante do avanço do agronegócio para regiões como o cerrado e a Amazônia, e da construção das grandes obras hidrelétricas, dezenas de povos originários estão ameaçados de perder seus territórios.
Para o branco – fruto da civilização ocidental/cristã – parece cada dia mais incompreensível o mundo indígena e os políticos e empresários jogam muito bem com isso na opinião pública. A frase “muita terra para pouco índio” é repetida à exaustão, como se fosse uma verdade inquestionável. Que necessidade têm os índios de tanta terra? Perguntam os deputados, os mesmos que querem distribuir as terras indígenas aos seus amigos latifundiários.
Pois é necessário aclarar duas coisas básicas. Primeiro, quem tem muita terra são os fazendeiros, e poucos: 2,8% dos estabelecimentos rurais são grandes propriedades e ocupam 60% das terras produtivas. Já os indígenas brasileiros que totalizam 305 etnias ocupam apenas 12,5% do território nacional (106,7 milhões de hectares).
Segundo, a terra, para o índio, não tem a mesma significação que para o branco. Enquanto a cultura ocidental vê a terra como mercadoria, passível de ser comprada e vendida, impregnada de valor de troca, o indígena a concebe como um todo sagrado e visceralmente ligado à vida. Para um branco não há problema em comprar um terreno e depois vender, ir para outro terreno, fazer nova casa. Mas, para o indígena, o território é morada dos deuses, morada dos antepassados, está cheio da vida da comunidade. Sair de um lugar e ir para outro significa a morte.
Assim, para que as pessoas possam melhor compreender o significado do território para um povo indígena o projeto “Povos Originários de Nuestra América”, do IELA, que acompanha as lutas indígenas desde 2004, inicia agora uma série de vídeos, com entrevistas realizadas junto a lideranças indígenas, discutindo singularmente essa temática. Eu coordeno o projeto com a participação de Rubens Lopes e Cris Mariotto, ambos participantes do grupo de extensão Indígena Digital, também do IELA, e coordenado pela professora Beatriz Paiva.
O trabalho, realizado nessa parceria, conta ainda com o apoio das entidades de organização indígena de cinco regiões do país: Apib, Coiab, Apoinme, Aty Guassu e Arpinsul.