Lula discursou por mais de uma hora no 4º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais na sexta (dia 16 de maio) e falou sobre a imprensa, Copa do Mundo, protestos e uma perigosa onda de despolitização que contamina boa parte da sociedade brasileira.
Se, de um lado, uma juventude ocupa constantemente às ruas em busca de um novo protagonismo político, de outro, parte significativa da classe média (nova ou velha, pouco importa) tem glorificado o discurso apolítico. Faça um teste simples: comente em um elevador de um prédio de classe média que a política não serve para nada e todo político é corrupto e sua chance de agradar é alta.
O blog Zonacurva esteve presente no discurso de Lula ao lado de blogueiros, ativistas digitais e políticos como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Alexandre Padilha. A midiazona como Folha de São Paulo, O Globo e TV Bandeirantes (programa CQC) também estiveram no evento organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
“Se não estivermos dispostos a discutir, a negação da política prevalece e todo mundo passa a ser igual. Ninguém presta. Todo mundo vai para a mesma vala. E quando se tenta negar a política, o que vem depois da política é muito pior. Citem um exemplo de um país que melhorou depois da negação da política? A negação da política dá em Musolini, Hitler ou no golpe militar como foi aqui no Brasil em 64… Temos que convencer as pessoas que, em vez de negar a política, que elas façam política” (trecho do discurso de Lula)
Ao tentarmos entender os porquês desse cenário, nos deparamos com algumas motivações como a ausência da consciência do papel da política no cotidiano, a falta de educação política nas escolas e que os 25 anos de democracia não foram suficientes em preencher o vácuo no debate político entre a maioria dos brasileiros durante os 21 anos de ditadura militar. Mas o que me parece mais relevante como causa desse clima é a aposta da imprensa corporativa em um discurso raso e alienador baseado no ódio que subestima a capacidade de análise do leitor/espectador.
O exemplo disso foi a própria cobertura do discurso de Lula. A manchete da Folha no sábado distorceu uma fala de Lula e estampou uma manchete tragicômica: Para Lula, cobrar metrô em estádio é babaquice. A Folha só fez mais do mesmo. O irônico é que a Folha ‘cobre’ um evento que aborda, entre outros assuntos, os abusos da grande imprensa e lá comete mais um. A história completa da ‘cobertura’ da midiazona ao evento pode ser lida no Blog da Cidadania.
Para a formação de uma imprensa mais livre não basta apontar a sordidez e os absurdos praticados pela mídia corporativa, apelidada de forma certeira de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Vale frisar que há exceções na grande imprensa, é claro, mas, infelizmente, exceções nesse caso só confirmam a regra.
“Nunca vi tanta violência de ataque preconceituoso contra um governo como eu vejo contra a Dilma hoje” (Lula na sexta)
Não resta dúvida sobre a relevância da luta pela pluralidade na imprensa e o combate à concentração dos meios de comunicação nas mãos de meia dúzia de famílias no Brasil. Mas cabe a nós, jornalistas, também a busca de soluções criativas que consigam furar os esquemas viciados da grande imprensa. Muitos blogues e sites estão aí para provar que é sempre possível.
Infelizmente, a imprensa alternativa resiste a duras penas sem ou com pouca grana. Enquanto isso, os anúncios do governo recheiam com milhões de reais a burra dos barões da mídia. Em recente pesquisa, os Marinhos da Rede Globo foram apontados como os mais ricos do país.
“Hoje eu tenho mais consciência da briga pela regulação da mídia do que eu tinha ontem e Deus queira que amanhã eu tenha mais consciência do que eu tenho hoje porque quanto mais aumenta a consciência da gente, sentimos mais vontade de lutar” (Lula)
Protestos na Copa
Como nos estádios a venda de bebida alcoólica está proibida, Lula afirmou que não vai aos jogos e prefere assistir aos jogos em casa bebericando sua cerveja. O ex-presidente afirmou que sente orgulho de ter trazido a Copa e as Olimpíadas para o Brasil..
“O México já fez duas Copas e na última Copa no Brasil, a gente só exportava café. A Copa é uma oportunidade extraordinária de mostrar a beleza desse povo alegre que é resultado de uma miscigenação. A Copa do Mundo é mais do que um evento esportivo, é um encontro de civilizações”. Descontraído, Lula afirmou que não tem medo de que os protestos possam atrapalhar o evento e sim de que o Brasil perca novamente o Mundial em casa como na Copa de 1950.
“Agora vou ficar com medo de greve, de passeata, sempre tivemos isso, a minha bursite é de carregar faixa de greve, eu vou ser contra agora… nós temos que tentar garantir que as pessoas assistam aos jogos” (Lula)
Assista à entrevista completa de Lula: