por Guilherme Scalzilli
A simultaneidade abrangente da televisão diminui o fascínio grandioso da experiência nos Jogos Olímpicos, mas a presença nas competições impossibilita apreender algo além delas próprias. Paradoxalmente, a impressão de amplitude e diversidade fica mais nítida à medida que essas características se fazem menos apreensíveis.
O clima geral é festivo, deslumbrado e ordeiro. A sensação de segurança predomina, inclusive nas regiões sensíveis. Chega a soar surpreendente o baixíssimo número de ocorrências negativas registradas pela mídia. São inúmeras disputas simultâneas, multidões imensas circulando por centenas de quilômetros sem parar, pessoas de todas as nacionalidades, faixas etárias e motivações.
Sim, ocorrem problemas. No BRT, principalmente, que não se preparou para as responsabilidades assumidas pelo transporte rodoviário nos Jogos. Não existem mapas das linhas especiais no site da empresa, nem nas estações. Muitos funcionários dão informações desencontradas. Ninguém organiza as aglomerações nos horários de pico.
Também houve e há falhas logísticas. No primeiro dia, a rodoviária Novo Mundo só tinha dois caixas eletrônicos para compra do cartão de transporte, ambos quebrados. As estações de metrô fecham antes de algumas disputas terminarem.
Vencida a fase de aprendizado, porém, os deslocamentos pelo circuito olímpico transcorrem de forma satisfatória e evidenciam o acerto na escolha dos pontos de competição. Todas as regiões da cidade foram envolvidas, dispersando o afluxo gigantesco de pessoas e revelando a contraditória beleza desse lugar único
É necessário louvar o grau superior da organização interna dos Jogos, e criticar suas falhas pontuais, mas eles fazem parte de uma estrutura mastodôntica e bilionária que tem pouco a ver com a cidade-sede ou seus moradores. Mesmo as evidentes melhorias no transporte e nas instalações públicas cariocas precisam passar pelo teste do uso cotidiano, fora da excepcionalidade de um momento que parece a salvo de intempéries.
A tola confusão entre a nacionalidade dos anfitriões e o cosmopolitismo de um evento quase impecável serve apenas para revirar estômagos provincianos. E para nos lembrar de suas previsões catastróficas e de sua infame torcida pelo fracasso dos Jogos. Agora estão por aí, feitos zumbis ranzinzas, falando em déficits na Previdência.
Por outro lado, a mídia que lucra com o evento silencia sobre o papel fundamental que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff tiveram na viabilização da inesquecível festa olímpica. Cada imagem do triunfo evidencia o oportunismo do golpe e explica por que os golpistas se esforçam tanto para consumá-lo agora, em meio ao deslumbramento do país.
Publicado originalmente no Blog do Guilherme Scalzilli.