Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou à Presidência da República. O abandono do cargo por Jânio jogou o país no colo dos militares. Graças à atuação do governador do Rio Grande do Sul na época, Leonel de Moura Brizola, os planos de golpe dos setores conservadores do país foram adiados.
Infelizmente, a tomada do poder pelos militares aconteceu dois anos e meio mais tarde, o que afundou o país no obscurantismo político por mais de duas décadas. Na ocasião da renúncia de Jânio, o vice-presidente João Goulart estava em viagem oficial a China e os ministros militares queriam impedir sua posse no retorno. Os ministros chegaram a ameaçá-lo de prisão quando retornasse ao país por suas supostas ‘ligações como o comunismo internacional’.
Do mesmo partido de Jango (o PTB de Getúlio Vargas) e seu cunhado, Brizola liderou a chamada Cadeia da Legalidade, movimento que mobilizou vários setores da sociedade em apoio à posse de Goulart. O vice-presidente Jango havia sido eleito legitimamente na eleição de outubro de 1960. Ele era o candidato a vice da chapa de Henrique Teixeira Lott, que foi derrotado por Jânio. Na época, as eleições de presidente e vice eram separadas.
Opondo-se aos militares, o governador Brizola formou uma rede de estações de rádio e passou a transmitir da sede do governo gaúcho, o Palácio Piratini, programas e discursos em defesa da Constituição, que garantia a posse do vice. Brizola chegou até a propor que João Goulart marchasse do Rio Grande do Sul até Brasília para tomar posse. Jango não aceitou.
Para evitar o confronto, foi adotado o Parlamentarismo. Jango assumiu como chefe de Estado em 7 de setembro de 1961 e Tancredo Neves assumiu como primeiro-ministro.
Documentário Brizola – tempos de luta
O documentário Brizola – tempos de luta, de 2007, realizado pelo escritor e cineasta Tabajara Ruas, mostra vários momentos da trajetória do político gaúcho: sua infância, o casamento com Neusa com Getúlio Vargas como padrinho, o exílio, a volta ao Brasil e vários outros episódios de sua agitada biografia.
Os vários trechos de entrevistas de Brizola em seu tom teatral são um aperitivo de seu forte carisma. O ex-presidente Lula afirma que as carreatas com Brizola na Baixada Fluminense impressionavam pela verdadeira adoração que a população local tinha por ele.
Os esforços de Brizola para democratizar o acesso à educação tanto nos primórdios de sua carreira política no Rio Grande do Sul como com os CIEPS (Centro de Integração de Educação Pública) no Rio de Janeiro, e os desafios à Vênus Platinada nos recordam de sua luta contra duas chagas brasileiras: os gargalos sociais do acesso à educação e o enfrentamento do oligopólio das telecomunicações. Rever Cid Moreira em leitura de duro texto de Brizola contra Roberto Marinho no JN da TV Globo é sempre impagável.
No filme, ainda assistimos a presidente Dilma Rousseff, originária do PDT (partido de Brizola), e o líder do MST (Movimento dos Sem Terra) João Pedro Stédile tecendo loas ao líder gaúcho, além de muitos outros depoimentos de personagens da vida política brasileira e mundial, como o ex-primeiro ministro português Mário Soares.
O autor do documentário, o também escritor Tabajara Ruas já havia abordado os anos de chumbo no Brasil em seu belo romance histórico O amor de Pedro por João, de 1998, em que narra a história de dois exilados políticos. Ruas produziu a obra quando vivia também exilado em Copenhague, na Dinamarca.
Em relatório recentemente divulgado pela CIA (central de inteligência estadunidense), e, que na época foi enviado ao governo brasileiro, comprova como, mesmo no exílio no Uruguai, no final da década de 60, Brizola tentou organizar a resistência à ditadura.
(Texto atualizado em 24 de agosto de 2014)