Há algum tempo em Sampa, línguas estrangeiras incorporam-se à paisagem urbana em locais nunca dantes navegados. Casal conversa com o filho em francês na padoca, atletas de final de semana ofegantes em alemão no Parque Villa-Lobos, espanhol versus portunhol na fila do cinema da Paulista e inglês sem sotaque perto do caixa da farmácia.
Os gringos redescobrem o Brasil. Com a Europa de pires na mão e o nosso baixo desemprego, empresas brasileiras os contratam a preço de banana. E banana is our business.
Os diplomas de MBA substituem os enferrujados bacamartes e IPADs e IPHONEs último tipo (comprados por menos) saltam aos olhos dos colonizados como os espelhinhos há mais de 500 anos.
O brasileiro adora se inferiorizar e, para nós, tudo que é estrangeiro já começa com três corpos de vantagem. O mantra “vamos passar vergonha na Copa e nas Olimpíadas” ainda é repetido ad nauseam por muitos.
Uma piada frequente, contada diurturnamente nos anos 80, dizia que um estrangeiro chega ao Brasil e discorre sobre as nossas maravilhas para Deus. A cada elogio, Deus responde afirmativamente com enfado. Cansado do deslumbre do gringo, Deus responde: “mas você vai ver o povinho que eu vou colocar lá”. A piada explicita o nosso complexo de vira-latas, como dizia Nelson Rodrigues: somos Narcisos às avessas.
Temos o prazer mórbido de acabarmos com nossa autoestima por conta própria. Outro dia encontrei nova modalidade de autoimolação numa festa corporativa. Novo rico que migrou da classe A para AA (segundo nova pesquisa da Standard & Poor’s) relatava, crente que agradava aos convivas, como seu amigo italiano garantia que nenhuma cantina italiana de São Paulo presta. O índio AA concordou com o cara-pálida prontamente.