Rock anos 60 – Ora, quem diria, o eterno e atemporal rock and roll ficou sex. Sim, sexagenário. Ainda que várias incursões anteriores criassem as matrizes desse gênero musical que transformaria a cabeça e o corpo da juventude desde o final dos anos 40 – filho que é do pós-II Guerra – é a partir de 1954, com o surgimento de Elvis Presley, que o rock invade totalmente a cena e a face branca da sociedade norte-americana e chega, agora, aos 60 anos.
Os anos 50 marcam um período de grande efervescência nos Estados Unidos. Os sucessos da música negra – gospel, blues, jazz, folk – identificados de modo geral como rythm’n’blues (R&B), encontravam como único meio de penetração no mercado pop (composto pelo público branco) sua expressão através do cover (regravações de originais).
O interesse comercial está sempre dando as cartas e, para conquistar o mercado branco, o R&B passou a sofrer adaptações que iam desde a moderação no linguajar das letras à modulação das vocalizações, seguindo normas vocais e morais brancas. Em 1952 acontece, também, o fim do macartismo (política moralista defendida pelo senador McCarthy).
É nesse contexto, no início dos anos 50, que o cover emerge e, entre seus principais expoentes, destacam-se Dorothy Collins, Pat Boone e Bill Halley. Os dois primeiros se projetariam com “ballads”, mas Bill Halley se especializaria em covers. Após muitas audições de R&B, ele decide formar sua própria banda, a The Comets.
Nesse mesmo ano, Alan Freed, um Disc-Jockey (DJ) de Cleveland, cria o programa de rádio “Moondog’s Rock and Roll Party”, no qual tocava covers e alguns originais R&B. Tamanho foi o sucesso do programa que, no ano seguinte, Freed organiza uma série de shows com artistas negros, mas destinados aos jovens brancos. Em 1954 ele se instala em Nova Iorque e, junto a diversos outros DJ, passa a tocar sucessos negros aceitos pelos brancos.
Era a hora e vez de Bill Halley. Através da Decca, gravadora de âmbito nacional que o havia comprado da Essex, ele se mantém com “Shake rattle & roll”, durante todo aquele ano, na parada de sucessos, as dez mais – The top ten. Foi só esperar a primavera de 1955 para estourar a parada com “Rock around the clock” que, poucos sabem, é um cover de “Let’s rock awhile”, de Amos Millburn e, pasmem, datado de 1949. Vale lembrar que na gíria dos guetos, “to rock” designava o ato de fazer amor, do mesmo modo que “to jazz”.
Nova tecnologia: o disco de vinil
Havia, ainda, uma nova tecnologia invadindo o mercado e alterando os discos de gomalaca, em 78 rotações por minuto, desde 1948, para o de vinil, em 45 RPM, ampliando de forma maçiça o consumo de música nos States e mundo afora. A tecnologia – como vemos hoje – funcionara, por si só, como um novo dispositivo de marketing: oferecia-se à nova geração outra linguagem musical e dança, sob novo suporte para a audição e, incluída, várias tendências no vestuário, literatura, cinema, criando um novo tipo de consumidor.
Em 1955, explode o sucesso “Tutti frutti”, de Little Richard. Uma nova cria de Sam Phillips, da lendária Sun Records, Carl Perkins ganha o primeiro disco de ouro do rockabilly (rock+Hill+Billy – mistura de rock com folk) com “Blue suede shoes”, já em 1956. Um desastre de automóvel seria fatal para Perkins. Jerry Lee Lewis, nova descoberta de Sam e que já se apresentou no Brasil, fazia loucuras com seu piano. Até hoje Lewis é apontado como a maior performance do rock’n’roll, embora sua popularidade esteja restrita a três hits: “Whole lotta shakin’going’on”, de 57, “Great balls of fire” e “Highschool confidential”, em 1958.
Dois anos antes, acontecem os esplendorosos sucessos dos rock baladas. Com os Platters, “Only you” e “The great pretender”. Dois anos depois, “Diana”, com Paul Anka, que venderia de saída nove milhões de cópias. Pintavam, ainda, no fim dos anos 50, promovida pela RCA e pela Columbia, a efervescência do calipso (oriundo da Jamaica) e do twisty, com Chubby Checker.
A partir de 1964 acontece a “invasão britânica”. Os sucessos de The Beatles e The Rolling Stones – e a minissaia, criada pela estilista Mary Quant, em 1964 – sacodem o planeta. Em 65, surge, na Califórnia, o The Doors, liderado pelo gênio alucinado de Jim Morrison. Nessa época, as drogas eram comuns no rock e Morrison, como Brian Jones, dos Stones – vorazes consumidores – acabam morrendo de overdose, aos 27 anos. Americanos também foram fundo nas drogas e morreram de overdose, com a mesma idade: o gênio da guitarra Jimi Hendrix e a cantora Janis Joplin.
Se em 1967, com o “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, os Beatles revolucionam a concepção musical do rock, em 69 o Festival de Woodstock mobiliza um público de 500 mil pessoas, em três dias de paz e amor, numa espécie de apogeu do universo rock. Mas no dia 6 de dezembro daquele ano, em Altamont, na Califórnia, a apresentação dos Rolling Stones traz de volta o clima de violência. Um hells angels – grupo de motoqueiros contratados para a segurança do show – mata um jovem da plateia que teria derrubado sua moto.
Psicodelia, glamour e punk rock
Em meio à psicodelia, glamour e punk rock, a década de 70 estourou alguns movimentos que já estavam em prática nos anos 60. Um deles foi o rock progressivo, em composições que muitas vezes se aproximam da música erudita. Os músicos eram virtuoses e o som, viajante. A banda mais famosa dessa época é a Pink Floyd.
“Outra vertente do rock dos anos 70 tem o heavy metal e sua quase alma gêmea: o hard rock. Com roupas de couro pretas, cheias de tachinhas, cabelos compridos e guitarristas metidos a semideuses. Muitas bandas exploravam o tema do satanismo e arregimentava uma legião de fãs adolescentes. Foi daí que surgiram o Black Sabbath, de Ozzy Osbourne, Judas Priest, Scorpions, Iron Maiden, Kiss, Alice Cooper, AC/DC e muitos outros. O Led Zeppelin também trafegava nessa praia, com um pouco mais de poesia, com a ótima parceria entre Robert Plant e Jimmy Page”, como descreve a jornalista Maira Cristina.
– De outro lado, surgia um rock glamouroso em que a androginia era parte do visual, ao carregar na maquiagem, roupas espalhafatosas de plumas e lamês. Era o glam rock ou glitter (purpurina). Aqui, aparece o camaleão do rock: David Bowie, que, em 1972, lança o personagem Ziggy Stardust e vira uma lenda da música pop. Dessa leva glam também vem o excêntrico Roxy Music, de Brian Ferry e Brian Eno; o T-Rex, de Marc Bolan, e os alucinados rapazes do New York Dolls, que se vestiam de mulher e tocavam como loucos.
Maira sinaliza a chegada dos anos 80 “com um restinho de onda punk. Mas o gosto de ressaca estava no ar”. A nova geração, segundo ela, “vinha cheia de melancolia, com uma rebeldia mais triste, sombria e solitária. Nas letras, muitas vezes niilistas, um lirismo que representava muito bem o sentimento dos jovens da época. Era o pós-punk. De Liverpool, vinha o Echo and The Bunnymen, e de Manchester, o Joy Division, com toda a tristeza do vocalista Ian Curtis, que se enforca, aos 22 anos de idade. O resto da banda formaria a New Order. Darks e góticos também eram bem representados pelo Sisters of Mercy, The Mission, The Cult e Bauhaus.
Na contramão de toda aquela badtrip, surge a “New wave”, com música alegre, para dançar. Trazia roupas coloridas, gel no cabelo e muita alegria, como o B’52 e o Talking Heads, de David Byrne. As três bandas mais famosas nos anos 80 foram The Cure, The Smiths e U2. Segundo Maira, o Cure tinha aquele visual dark, só usava roupa preta, batons escuros, maquiagem e cabelos arrepiados. Era a rapaziada liderada por Robert Smith. The Smiths, considerada por muitos como a melhor banda dos 80, apostava no lirismo das letras de Morrissey e nas guitarras de Johnny Marr. Os irlandeses da U2 desde o começo traziam uma preocupação política nas letras como em “Sunday blood sunday”.
Elvis, o primeiro superstar
Primeiro superstar do planeta, o furacão Elvis Presley (1935-1977) inicia sua ascensão, em 1954, com “Thats all right mama”. Tão logo a popularidade dele – que viria a tornar-se o Rei do Rock” – ultrapassa as fronteiras do Tennessee, a RCA Victor compra-o de Sam Phillips (da Sun Records) por nada menos que US$ 30 mil e mais um cadillac para o cantor. Em 1957, o “negócio Elvis”, administrado pelo “colonel” Parker já rendia US$ 20 milhões ao ano.
Também conhecido como Elvis The Pelvis, apelido pelo qual ficou conhecido na década de 50 por sua maneira extravagante e ousada de dançar, foi um dos pioneiros e principais idealizadores do rock and roll. Uma de suas maiores virtudes era a voz, devido ao alcance vocal, que atingia, segundo especialistas, notas musicais de difícil alcance para um cantor popular.
A crítica especializada reconhece seu expressivo ganho, em extensão, com a maturidade; além de virtuoso senso rítmico, força interpretativa e um timbre de voz que o destacava entre os cantores populares. Para muitos, ele é avaliado como o melhor cantor popular do século 20.
Um dos maiores ícones da cultura popular mundial do século passado, entre seus maiores sucessos musicais (ele atuaria também no cinema) podemos destacar “Hound Dog”, “Don’t Be Cruel”, “Love me Tender”, “All Shook up”, “Teddy Bear”, “Jailhouse rock” “It’s now or never”, “Can´t Help Falling In Love”, “Surrender”, “Crying In The Chapel”, “Mystery Train”, “In The Ghetto”, “Suspicious Minds”, “Don’t Cry Daddy”, “The Wonder Of You”, “An American Trilogy”, “Burning Love”, “My Way”, “My Boy” e “Moody Blue”. Se quiser re-ouvir, estão todas disponíveis no Youtube.